Conheça a história das costureiras e artesãs que produziram mais de 45 mil máscaras desde o início da pandemia. Agora, elas se organizam em uma cooperativa para ampliar negócios
Gláuria Campos, 46 anos, é costureira de herança. Tem o talento da família e, desde os 16 anos, transforma tecidos em peças de desejos. Até que um dia se cansou, estudou pedagogia e começou a dar aulas particulares. Foi quando chegou a pandemia e, sem poder sair de casa para atender os estudantes, resgatou a profissão da adolescência e começou a fazer máscaras a pedido das amigas.
Até que alguém lhe falou sobre a Fábrica Social, do Movimento Comunitário do Jardim Botânico (MCJB), que acaba de se transformar na Cooperativa das Costureiras e Artesãs do Jardim Botânico e de São Sebastião. A costureira queria apenas conhecer o projeto, mas se encantou, quis ensinar o que sabia a outras mulheres, conseguiu empregar dois filhos e hoje é uma das coordenadoras do grupo.
Reunidas nessa cooperativa, cerca de 30 artesãs e costureiras são donas do próprio negócio e, igualmente, investem e retiram os lucros das atividades que desempenham. Para Gláuria, essa forma de empreender em grupo, com voz de comando igualitário, é uma vantagem para a mulher que almeja liberdade econômica, financeira e até a flexibilidade na rotina de mãe e dona de casa.
Patroas de si mesmas, essas empresárias saem de uma situação de vulnerabilidade social e financeira. É quando elas se “empoderam”, podem traçar as rédeas de seu próprio destino e tocar o próprio negócio, como reforça Maria Luiza do Valle, presidente do MCJB.
Oferecer ferramentas para que as mulheres se organizem e possam ter uma atividade que gere renda e resgate sua dignidade é uma das bandeiras da secretária de empreendedorismo do DF, Fabiana Di Lúcia, que, logo ao assumir o cargo, criou a Unidade de Apoio à Mulher Empreendedora, justamente para apoiar esses movimentos que fortalecem o empreendedorismo feminino.
A decisão de transformar a Fábrica Social em cooperativa foi acordada em Assembleia na última semana e contou com a presença, além da secretária, do secretário executivo da Semp, Márcio Farias; da chefe da Unidade de Apoio à Mulher da Semp, Patricya Wanna; além do administrador regional do Jardim Botânico, Antonio de Pádua, e do administrador regional de São Sebastião, Alan Valim.
Saiba mais:
A Fábrica Social do Jardim Botânico, no ano passado, começou a reunir mulheres artesãs e costureiras que precisavam de dinheiro para manter a própria família, além de acolher imigrantes da Venezuela e da Colômbia que chegaram a uma nova pátria sem renda e qualquer rumo para recomeçar. No começo, prestavam pequenos serviços aos moradores dos condomínios, até que surgiram os pedidos de produção das máscaras de proteção ao coronavírus.
O negócio, que começou tímido, cresceu. A única máquina precisou de reforços. Outras mulheres se uniram para ajudar as demais a darem conta da demanda. Os pedidos extrapolaram a vizinhança, e as costureiras produziram 45 mil máscaras, sendo 15 mil para o GDF e cerca de 3 mil para a ONU. A organização internacional também encomendou 1,8 mil kits de higiene com 11 itens cada. O resultado dessa matemática: 30 famílias com fonte de renda e uma nova cooperativa de portas abertas.